Estranhos que visitaram

sábado, 26 de junho de 2010

17 anos


Depois da festa, passeamos pelas ruas da cidade. Eu havia bebido um pouco e a noite me dava esperança, na verdade, a esperança surgia quando eu estava com ele. Meu vestido longo tinha a cor do vinho que ele havia entornado no próprio smoking. Cantávamos alto a música que mais gostávamos, enquanto o vento gelado fazia o cabelo dele voar, voar e bagunçar.
O prédio dele se aproximava e minhas mãos estavam geladas, eu sentia a garganta ficar gelada também, o estômago totalmente embrulhado e, às vezes, tudo parecia rodar, eu estava nervosa. A garagem do prédio estava vazia, o silêncio doía, eu sabia o que estava reservado para nós. Ele abriu a porta do carro, eu olhei para meus trêmulos joelhos. Quando estamos nervosos arrumamos algo para olhar, pensar, e ficar ali por um longo período de tempo ou mexemos em algo desnecessário para o momento. Eu fiz isso. O meu sapato, que só usava em ocasiões especiais, brilhava como nunca, aquele brilho foi um refúgio, até que Ele me chamou. Num impulso abri a porta do carro e peguei minha bolsa de mão. Ele fechou o carro e subimos.
Tropecei ao subir no elevador, típico do meu jeito. Ele sorriu e me abraçou, comentou que eu estava gelada, eu sorri. Ele sabia o motivo. Chegamos. A porta branca do apartamento se abriu, ele entrou, colocou a carteira e a chave do carro em cima da mesinha de vidro. Eu fechei a porta, tranquei-a. Tirei os meus sapatos e coloquei ao lado do sofá. Ele abriu a geladeira e pegou água, já havia tirado o smoking. Cruzei as pernas e senti um calor imenso. Levantei e fui abrir a janela, os carros de lá de cima pareciam vaga-lumes em fila indiana. De repente ele já havia me abraçado, fechei os olhos e tive medo. Sim, eu o amava, mas era o meu corpo sendo entregue a outro corpo. Meu corpo nunca tocado, nunca descoberto em baixo de lençóis e desejos. Mas eu sempre fui decidida, eu sabia que ia acontecer em algo momento. Não hesitei.
Tensa, eu estava tensa. Ele me levou para o quarto, me segurou pela mão, acariciou meu rosto, sentou-me na cama, arrumada e limpa, cheirava a lavanda. Disse que me amava, eu sorri. Tirou um papel do bolso, o papel tinha sido dobrado várias vezes para caber no bolso. Ele leu para mim: “... eu quero mais é me abrir e que essa vida entre assim como se fosse o sol desvirginando a madrugada, quero sentir a dor dessa manhã nascendo, rompendo, rasgando, tomando meu corpo. E então, eu chorando, sofrendo, gostando, adorando, gritando feito louca, alucinada e criança, sentindo meu amor se derramando, não dá mais pra segurar, explode coração”. Ele disse “é Bethânia”. Ele sabia que eu adorava a Bethânia. As lágrimas rolavam em meu rosto como uma resposta, como se eu soubesse mesmo que estava pronta, não havia mais o que temer de evitar Ele era mesmo o homem da minha vida, com quem eu queria ir além do horizonte, aprender a voar.
Continuei sentada enquanto sentia-o tirar as alças do meu vestido, quando a alça esquerda caiu ele acompanhou a alça e pegou minha mão, beijou-a e tirou o meu vestido. Deitei. A cama agora virava uma plataforma, como seu eu fosse viajar para um lugar distante. Fogo, de verdade, eu senti o queimar quando ele deito em cima do meu corpo. Beijava meu pescoço, acariciava minha pele, arrumava meus cabelos, falava eu te amo. Eu já estava segura e retribuía todo o amor que ele estava me proporcionando. A barba dele arranhava minhas costas, e nossos pés queriam se unir de qualquer jeito. Eu suava, o beijava, o sentia. Até que numa rapidez, num calor, num amor ele me fez mulher, eu vi além do horizonte, eu voei, eu amei. O corpo dele pesava sobre o meu e eu queria mais, eu chamava por Ele, eu queria ele mais e mais em mim. Era bom, era bonito, às vezes sujo, mas não era sexo, era amor sendo testado pela cama, pelo chão, pelo banho, pela plataforma dos sonhos, era a minha primeira viagem e ao lado do homem que eu amava.
Meu cabelo estava molhado, meu corpo em chamas e minha respiração começava a voltar ao normal. E eu chorei, na verdade, acho que eu sorri e meus olhos queriam de alguma forma mostrar, ao seu modo, a alegria que sentiam. Eu fui feliz naquela noite, foi o amor perfeito. Ele me abraçou e beijou minha testa, eu deitei em seu peito e disse “o sonho alegria me dá nele você está”. Ele disse “é Bethânia”. Eu disse eu te amo. Ele disse que eu era o sonho e o amor da vida dele. Ficamos em silêncio, realizados. Eu sabia que não era só a primeira vez, ele viajou pela primeira vez também. Felizmente, o amor nos ensinou.

Por Thaywara Oliveira.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

As reticências da vida.



Entender que acabou. Que as migalhas não estão no chão, que é melhor você ir embora, porque esse não é mais o seu lugar. Pare de lembrar-se dos beijos, e tudo que te remete à dor, não vai ajudar em nada. Fazer-se de coitado também não, esse rosto, esse jeito de quem perdeu não está te fazendo melhor, está te fazendo coitado. O amor está dilacerado, não é como antigamente: o amor tinha mais sorriso, melodia, cheiro e suavidade. Hoje ele vem com lágrimas, gritos, raiva. Fartou-se o amor, deu-se lugar ao medo de ficar sozinho e se encarar perante o fim do amor.
Não mais andar de mãos dadas, acariciando os dedos do bem-querer, nem esperar o riso que só entre nós havia a compreensão, se foi a sintonia dos pensamentos e as intimidades de um almoço de domingo, foi bom. Respirar o ar do novo e da vontade de fazer algo bom de novo, porque voltar não vai resolver, a estrada é longa e, às vezes, é necessário seguir só, deixar quem se ama ir, será que restou amor?
Pegar um papel em branco e escrever o novo roteiro da vida, um recomeço que sempre se espera, no fundo é sabido que o “pra sempre” não existe, “existe enquanto dura”. Se durou, existiu, fiquemos felizes por isso, existiu. Brindemos ao destino, ele nos leva à novas histórias, faça sua nova história, lavará tua alma e te dará novo rumo, alegria e vontade de viver. Somos auto-suficientes de sentimentos: quando ficamos tristes não há palavra amiga que te ponha de pé, quem te coloca é o teu próprio pensamento.
Dizer-te coisas lindas e tentar trazer-te de volta, só faria com que nos machucássemos mais, se é que seria possível. Mas eu descobri que posso dizer e fazer coisas lindas para uma pessoa que precisa muito de mim, do meu amor e carinho: eu. Eu necessito de mim, bem ou mal, triste ou feliz, não quero dizer que me basto, mas quero dizer que eu preciso valorizar o meu eu, e dar a mim a mesma importância que dei a você durante esse tempo todo. Eu não consigo concluir esse texto porque sempre chego ao ponto: isso tudo é um exercício da vida, em especial, a minha vida...

quinta-feira, 17 de junho de 2010


Rua da amargura, sem número, sem lares, sem datas.

Zeus,

Há quem diga que o bom poeta é aquele que escreve o que nunca sentiu. Sim, escrever assim é lindo, magicamente as palavras aparecem no papel: tinta- forma- letra- sentimento, que não há, pelo menos naquele momento. Eu serei aqui como poetas mal-sucedidos, porque eu vou falar do que no meu peito aflora, é a fome de escrever e de expor de forma bela o que de mais lindo se faz real, nesse instante: é o amor.

É o amor de Eros, amor das Graças, amor de Afrodite, é o meu amor por você, meu amor. É como voltar ao lar depois de alguns dias não muito agradáveis, é como num dia de chuva e frio ficar debaixo do edredom e sentir-se bem. Matar e morrer por ti está em minha natureza, procuro-te em todos os lugares, porque és meu. Eu preciso que entendas que tudo que fiz foi por amor, só sinto-me completa ao teu lado.

Ah, meu amor! Você me traz as sensações da grandeza da paixão, quando acaricia meu rosto e me olha de um jeito tão seu. Quando canta, o meu deus do Olimpo em sua alta majestade. Pensar em ti é jogar fora as minhas noites de sono, é sentir frio e calor ardente ao mesmo tempo, como é possível? És belo para mim e formoso, o jeito sereno de sempre, você me conquista a cada palavra e eu me apaixono por você todo dia.

As palavras fogem quando quero falar de ti, mas o destino te traz para mim, sempre. Não adianta a fuga, não adianta promessas, o certo é ficarmos juntos, o teu lado é meu, quantas vezes e por quantos teremos que passar para entender que nos pertencemos, que não tem jeito?

É uma história que eu nunca sei pra onde vai me levar, eu tenho medo do que possa nos acontecer, parece que andamos em círculos e voltamos sempre ao mesmo lugar, pena que nas voltas acabamos ficando tontos e caímos em direções contrárias. Eu te perco, você me perde e tudo volta à estaca zero, eu sem você. Esperando-te. Idealizando-te e pensando que você não é pra mim. E tu beijando e abraçando pessoas que pertencem a outros destinos, personagens de outras histórias substituindo o protagonista da minha história de amor, você...

É Zeus! Mas eu cansei de ficar te esperando à noite, sabendo que você me trai com mortais e deusas. Mas eu sou a deusa das mulheres casadas, preciso dar um jeito na nossa vida. Suas roupas estão na mala ao lado da cama, pegue tudo e não deixe a toalha molhada em cima da cama, apesar de todo meu amor e ciúme, eu odeio sua barba mal feita, e seu cheiro de vinho. Mas entenda, meu amor, tudo o que faço é por amor, por que essa é a escolha que tenho para não te matar...


Hera.