Estranhos que visitaram

sábado, 17 de dezembro de 2011

Una mujer



                   Ela era tão linda e vestia vermelho. O seu perfume estava chamando atenção, ele gritava, era um chamamento aos homens. Ela vinha em minha direção e eu corria dela, eu virava o olhar, mas ela era ruiva e eu não conseguia fugir dela. Eu não conseguia controlar minha respiração, era vergonhoso ver meu abdômen subir e descer tão rapidamente. Aquela bota a deixava numa superioridade incrível, um short curto e uma blusa louca. Nunca vi mulher igual.

                  A tarde de um verão americano é de um calor africano, queima, é fogo puro. Mas ela havia mudado tudo naquele momento. Um rosto angelical, mas um rosto de quem já havia experimentado de tudo na vida. Abriu uma cerveja e segurou pelo gargalo, eu pensava que ela estava vindo em minha direção, mas ela ia sentar na calçada. Seu carro era antigo, tocava country. Ela observava a estrada e os homens a observaram como animais, bichos querendo atacar a presa. Eu era o garçom daquele bar, enxuguei minhas mãos no avental  e parei (como os outros idiotas) para ver aquela mulher, uma mulher como nenhuma já vista naquele bar. Quando ela pediu outra cerveja, nem olhou para trás. Esticou sua mão e tudo o que eu tinha a fazer era entregar a bebida.  Sua voz não encaixava com seu tipo. Mas ela ficava mais interessante, que voz divina, grave, sem emoção.

                 O que havia levado aquela ruiva se sentar no chão, beber uma cerveja e ter aqueles olhos tão vazios? Ela era misteriosa, ela suava medo. Os rumores no bar era de que ela não prestava, de que tinha vindo de outra cidade, tinha fugido. Eu não queria acreditar, ela já tinha virado uma deusa. Ela era Hera. Alguns minutos se passaram e a Hera começou a perguntar aos homens do bar se eles queriam festa? Se eles queriam ver algo de bom naquela tarde.

              Eu achei que aquilo não era uma boa, aqueles homens não eram dignos de apreciar aquela obra em forma de mulher.  Ela subiu em uma mesa e foi tirando a bota masculina que a deixava mais linda. Sua pele era tão branca, era como  gelo que queimava feito fogo.  A linda mulher dos cabelos em chama, começou a tirar a blusa, os homens do recinto estavam eufóricos, gritavam e entornavam cerveja pelo chão. Eu não consegui parar de olhar, eu não ia impedir, eu estava gostando. Seus seios à mostra eram como uma pintura, seus cabelos e seus seios agora eram crianças brincando de se esconder. 

          Ela dançava e deslizava a garrafa de cerveja entre os seios, as curvas, o rosto. Ela aliviava seu calor. Ela aumentava minha temperatura. Ela começou a perguntar se eles queriam mais. Eles imploravam por mais. Eram velhos broxas, jamais iriam conseguir algo com ela.
            De repente, ela me chama com o pé. Agora ela era uma bailarina com passos leves e delicadeza de menina. Ela pediu para que eu desabotoasse seu short jeans. Eu o fiz. Encostei em seu corpo, ela era mais alta por causa da altura da mesa. Ela segurou minha cabeça como uma mãe faz com o filho pequeno. Com uma mão em suas costas sacou uma arma e começou a atirar em todos. Pouco a pouco o dono do bar e os velhos de sempre foram caindo. O silêncio foi tomando conta do lugar. Agora o chão virou uma homenagem ao seu cabelo.

- “Mi nombre es Desirée” – disse ela. 

            Comecei a chorar. Ela enxugou minhas lágrimas com arma, me abraçou e eu só senti seus seios quentes contra o meu peito.

- Tú eres mío a partir de ahora, no digas nada! Shhh... – susurrou Desirée.

           Ela me levou para o carro e eu, apesar de amedrontado, estava feliz. Finalmente ia viver. Era o meu  conto de fadas. O carro velho roncou e a fumaça apagou meu passado. Aquela mulher mudou a minha vida e  me ensinou que nós nascemos para morrer.



Por Thaywara Oliveira

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

O ciúme de Mariana



        Eu te ligo e você não me atende. Mil pensamentos pairam. Ligo para as minhas amigas e elas me irritam. Eu preciso me manter preocupada, eu não posso falhar. O que você está fazendo agora, pensando em quem? E quando você para e olha pra mim apertando a boca? Quer me deixar, né? Eu entendo, nem sei como você aguentou tanto tempo, eu não me suporto. Mas eu preciso te dizer que, se você for, eu não existirei mais. Eu vou ficar vagando e disfarçando tudo com sorriso. Vou ter que aguentar o choro, vou ter que levar a vida. Eu peço pra que você não torne o meu dia a dia em realidade, tenha calma.
        Talvez se a gente fizer uma viagem curta isso suma, mas eu peço que você pense de novo. Só eu sei o que sinto quando vejo você ir mesmo estando ao meu lado, é difícil não conseguir te prender. Na verdade, eu queria ter controle total sobre seus pensamentos, sentimentos, ter mágica e fazer você me enxergar o tempo todo. Aí, eu ia poder dizer a todo mundo o quanto você me sufoca. Pelo contrário, eu tenho que sentir essa sua falta, me acalmar e deixar de bancar a idiota.
         

sábado, 29 de outubro de 2011

Eu te amo



Começou mesmo quando as flores realmente apareceram no caminho, eu pegava flores para cheirar e não havia perfume. Era tudo mentira. Eu sonhava em ver um amor através de filmagens feitas por uma super 8. Tá bem... confesso: sonhei tanto que terminei sozinha. Como terminei sozinha se eles dizem que comecei a viver agora? Meu medo é que os anos passem e eu nunca comece a viver mesmo.

Numa cidade grande as chances de encontrar aquela pessoa é no mínimo difícil, mas eu tenho uma grande ajuda divinal (prefiro acreditar que é divinal), me ajuda tanto que eu, quando menos espero, te vejo lá... parado, todo você, todo lindo. Mas olha só a novidade: você não pode ser meu. Porque nosso amor foi construído com bases duvidosas, são cartas, taças, aquelas torres que desmoronam em câmera lenta.

Normalmente você me causava acessos de loucura, mas eu te amo tanto, mas tanto que eu sempre voltava atrás. Porque dói, me dá raiva. Por que você é assim? Passam dias, meses, anos e eu não consigo esquecer teu sorriso, da tua pele quente, da maneira mais carinhosa que um homem já me tratou. Apesar de tudo, eu sinto falta da tua delicadeza natural. Era lindo de ser ver. Tanta coisa que só a gente sabe, né? Os beijos mais lindos que eu já dei na minha vida foram entregues a você. Meu coração pulava tanto que eu tinha que respirar longe do telefone pra você não escutar.

Te beijava com a certeza de que era a última vez, talvez isso deixava cada momento mais intenso. Eu sei que eu preciso acabar com esse sonho antigo, que preciso seguir em frente e me achar num futuro mais certo. Mas é que você não deixa, a gente se trai. Rodamos tanto e nos perdemos. A gente não se permitiu, eu não vou dizer que me arrependo de não ter feito nada. Eu fiz tudo que estava ao meu alcance. Talvez eu devesse ter perguntado se você não queria tentar. Tentar sério.

Eu preciso me acostumar a sua falta. É como se você tivesse morrido. Eu não posso falar com você, não posso falar de você, não posso te ligar, não posso te encontrar. Fico dependendo do acaso e isso é como ganhar na loteria. Eu queria mesmo era perder e poder te ver constantemente, queria te ter ao meu lado pra me fazer rir muito. Pra sentir teu cheiro e ganhar tanto carinho. Presta atenção: você será para sempre o amor da minha vida. Eu não preciso conhecer vários caras, eu não preciso amadurecer mais, eu preciso de você de volta. Volta?

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Au revoir!


Me sinto suja de novo. Tua pele tocou a minha e a sensação me amedronta a todo o momento. Eu gostaria de ver você partindo, seria minha liberdade triste, mas seria a minha liberdade. Você não vai melhorar meu dia e essa doença está me machucando, me matando aos “muitos”. Faço orações, jogo oferendas, danço em frente a fogueiras, mas você não para. Você não sossega enquanto não me vê chorar. Começo a sentir o odor das suas palavras, esse é você. Eu peço pra que você me deixe viver, peço minha vida de volta, peço para ter um momento feliz antes de você acabar comigo. Me deixe um dia sem você. Minha família não se importaria, mas peça o quanto quiser pelo resgate. Não me ligue, não tente conversar comigo, não tente saber o que foi. Por favor, não olhe pra mim quando me encontrar. Finja nunca ter me conhecido, nem nunca tente uma aproximação ao franzir a testa. Eu te leio, eu te rabisco. Rascunho. Lembrarei do teu perfume barato num ônibus, num consultório médico, lembrarei de você às vezes. Mas quero você longe. Vai logo, me ajuda a viver. Essa dor consumidora me faz lembrar dos meus dedos e os arranhões que deixei em tuas costas, as feridas que você fez no meu peito. Sua voz ecoa na escuridão da minha vida. Sai da minha vida e recupera uma nação, um lar. Já troquei as fechaduras da casa e do meu coração. Au revoir!

domingo, 28 de agosto de 2011

STOP!


Eu estou num momento em que tudo vira reflexão. Escrever aqui está sendo difícil, aos que dizem ler meu blog, desculpem-me por não conseguir trazer histórias novinhas em folha. Quem sabe, após este desabafo, algo mude. Não significa que eu esteja mal, eu estou bem, sério! Mas algo tem me bloqueado, as palavras não se encaixam, não deitam no papel. Eu não abandonei o blog, às vezes entro e fico lembrando dos momentos em que escrevi cada conto... Enfim, esse blog mostra a minha caminhada no mundo das Letras. Do primeiro post ao último, uma caminhada que está ligada, sem dúvida, aos meus sentimentos. Eu vou voltar!

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Prontuário




Meu nome é Sérgio, tenho 32 anos e trabalho no RH de um hospital. Doutor, eu preciso muito de sua ajuda. Eu sempre fui uma pessoa muito transparente, mas me transformei em uma aberração. Vou contar um pouco para que o senhor entenda. Eu desde o início sabia que ia ser assim, o amor nunca foi para mim. E quanto mais puro é o meu sentimento, menos a mulher que eu escolher vai me amar.

Eu sei, sempre foi assim. Quando eu era criança, eu era apaixonado pela Dany, ela beijou outro garoto porque ele tinha MM’s e eu uma maçã. As mulheres me controlam demais, minha mãe insistia na maçã. Levar maçã ao colégio era sinônimo de vergonha. Era a prova de que você não tinha dinheiro para comprar nada na Tia da cantina. Há três anos descobri que a Dany pesa 20 kg a mais que eu, ficou uma morena horrível e está casada com o açougueiro.

Comecei a contar as desgraças que a vida me deu. Contar as alegrias era o mesmo que esperar ganhar na loteria. Expressões como “estar no fundo poço”, “estar na pior”, viraram frases feitas no meu cotidiano. Pois é, o fracasso de ter uma vida cheia de ideias, alegria e amor. Pra quê tudo isso se eu não posso usar, se eu não tive a permissão de usufruir? Eu me sinto parado bem em frente ao mar, depois de horas correndo numa estrada quente e deserta.

Só que eu não posso beber a água, me disseram que não mereço. Aí, eu desisto de tentar, porque eu acredito no que os outros me contaram. É vergonhoso. Pior quando eu me faço acreditar que não sou merecedor das coisas boas da vida, quando elas chegam para mim, me sinto culpado.

Pessoas desfilam com seu amor pelas ruas, algumas são bastante flexíveis e acham que o amor é inovador, e mudam de amor, e esquecem o amor e, na verdade, não amam. Eu no alto do meu silêncio costumo observá-los em shoppings, tem coisa mais irônica? Amor, compras e plástico. O amor virou prático, será que está vindo da China? A pior coisa que ganhei da vida foi a Bárbara. Eu não a culpo, ela é perfeita. Mas eu sou tão maravilhoso pra ela, que ela quer que eu encontre alguém que me mereça. Não! E se eu me transformasse no idiota que ela está saindo? E se eu me comportar como um palhaço conquistador, será que ela vai me “merecer”?

Chegar até a Bárbara e me declarar foi uma das experiências mais difíceis da minha vida. Porque o sonho mais idiota de tocar a pele dela, imaginar que ela vai ser minha no dia seguinte, que ela vai mexer no armário da minha cozinha como se fosse dela, que vai usar minhas camisas xadrez e dizer que eu só escuto música chata. Eu já tinha imaginado tudo, já tinha imaginado que eu não podia imaginar o quanto eu ia ser feliz ao lado da Bárbara. Eu estava pronto para dar a minha vida àquela mulher. Mas, no primeiro bueiro, ela jogou meu coração.

Depois de me declarar existe uma parte do meu dia em que meu coração começa a doer muito e sangra. A dificuldade é tão grande, que não saio mais com amigos, deixo de ir a lugares públicos. Cinema? Nem sei mais o que é isso. Doutor, é tão feio! Junto a essa dor, tem um sintoma que é a ânsia de choro. A poça de sangue me rodeia e então eu desabo em lágrimas.

Ao mesmo tempo minha mente fica cheia de imagens e momentos que passei ao lado dela como o amigo perfeito. Evitei sair de casa, desisti do emprego. É horrível ficar ajoelhado em cima do meu sangue sem poder fazer nada, sempre preciso fazer parar sozinho e demora muito. Isso dói ainda mais, Doutor... Doutor? Doutor, o senhor está sangrando!

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Sílvia


A gravata, a sala, os colegas de trabalho, a chefe: todos me sufocam. O suor vem me tirar mais e mais a paciência. Deixo o recado na caixa postal, você some. Como podes me fazer te odiar tanto? Que ótimo! Café na minha camisa branca, mais um motivo para a chefe reclamar. As mulheres, definitivamente, me odeiam.

Atenda a porra do celular. Eu elaboro planilhas, converso besteiras na sala ao lado, mas não tem jeito, eu só penso no que você está fazendo. Na noite passada as suas mechas loiras percorreram meu corpo, seu sussurro era um grito no quarto escuro, eu lembro que tinha luz verde. Sua calcinha branca, pele bronzeada, me sinto culpado, às vezes pareço fazer sexo com uma criança, mas você é uma mulher. Mulher sábia, eu aqui louco por sexo e louco pela minha sanidade de volta.

Os pensamentos mais eróticos me atrapalham, eles vêm quando falo de orçamentos, sem querer, preciso começar a pensar em coisas tristes, levo um tempo para sair da frente da mesa. Eu realmente preciso parar de pensar em você. Vou ao banheiro, a supervisora me chamou para uma conversa. Troco a camisa, vejo os arranhões, já estou louco novamente. Não estou pensando em amor, mas eu guardei sua calcinha... é amor?

Finalmente você atendeu o celular, agora me diz a hora que eu posso chegar aí, eu não aguento mais, preciso te ver. Não ria de mim. Fale comigo, converse comigo. Eu consegui desligar o telefone e você conseguiu me deixar com dúvidas, eu estou me perdendo e você é apenas uma mulher.

A supervisora me oferece um cargo maior em troca de silêncio e trepadas, fiquei desempregado. No barzinho da Augusta uma cerveja barata, paletó suado na cadeira e uma puta me oferecendo diversão, fui chamado de veado.

Tô aqui batendo na sua porta (bêbado), abra essa merda de porta! Você abre a porta com uma calcinha rosa, meia colorida, e um blusão com desenho de coração. Quando você masca chiclete desse jeito, eu sinto nojo. Eu quero te bater, te ensinar o que você merece. Mas a criança, o animal domado, aqui, sou eu.

Agora você apaga a luz, e a cor fluorescente de hoje é a vermelha. Eu deitado, você em cima de mim, sem o blusão. Eu achando que não vou aguentar cinco minutos, você mandando eu me preparar para uma noite toda. Um gemido seu, e eu pedindo : nunca me deixa, menina! Você gritando, rindo, chorando. A gente chegou lá.


“Menina, escrevo isso na tua pele, vai ser uma tatuagem. Acredite tive que te deixar menina para sempre na minha imaginação, o ciúme não me deixou deixar você. Você vai ser minha para sempre. Pra sempre você vai ter 17, fique feliz. Minha para sempre, para sempre, para sempre, para sempre...”

sábado, 19 de fevereiro de 2011

1/2



Uma das coisas que me fazem acordar assustada é cheiro de perfume forte. Puxei o ar com tanta força que pude sentir o gosto de álcool “amadeirado” daquele perfume. Meu cabelo armado pro espelho, marcas do sono no meu ombro e no meu rosto. Penso e o vazio ajuda a pensar. O nada é deprimente. Aquela manhã havia acordado diferente, eu sabia.

Há um tempo eu percebi que, enquanto eu andava pelas ruas, minha sombra não aparecia mais. Pensei que a física explicaria o que havia acontecido com o Sol, com a Lua. Eu estava ali do mesmo jeito.

Nas arrumações semanais do quarto, a dúvida surgia: metade das roupas havia sumido. Todos os perfumes estavam, simetricamente, pela metade. O espanto começou mesmo quando procurei a metade do chocolate que havia guardado na geladeira: tinha sumido.
Minhas unhas estavam quebrando, meu salário pela metade. Meu mundo girava e eu que nunca ligava para nada, comecei a sentir falta de tudo. Quando liguei o rádio a minha música predileta estava na metade. Comecei a perder meu cabelo e quando queria chorar a lágrima só caía do lado esquerdo. O desespero começou a tomar conta do meu corpo. Nesse momento só consigo mover um braço. Sinto que um ladrão está tentando roubar o meu “eu”. Mais que todas as perdas, comecei a perceber que quem eu amo deixou de me amar completamente.

Ele agora me diz a metade de um eu te amo: eu te adoro. Me oferece um afeto forçado: desamor. Agora não sinto minhas pernas.Eu que sempre me entreguei inteiramente a ele, estou ficando sem mim. Nesse momento, só funciono da cintura para cima.
Me dei conta que meu tempo está acabando, que o perfume e o susto foi você me deixando sem beijo na testa, eu estou acabando junto com esse dia. Preciso te dizer que meu amor foi completo, que meu corpo, meu coração foi todo teu.Eu fui tua. Agora não sinto mais nada e só deu tempo de escrever: depois que você decidiu me deixar, minha vida e meu amor despedaçamos. Meus membros, meus sentidos, meu coração (principalmente ele) estão dizendo em tom de adeus que “eu não sou nada sem voc...

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Para: Rodrigo


Rodrigo,

Quando quando você achou aquelas fotos, minha garganta gelou, eu fiquei fraca, perdi o chão. Eu sabia que daquele momento em diante eu estava acabada. Enquanto olhavas cada fotografia, por vários segundos, era como uma facada, porque eu conhecia todos os olhares teus. Aquele era o do desapontamento com uma pitada de ódio. Eu andava de um lado para o outro no apartamento, bebia uma xícara de café e não falava nada. O silêncio na sala era amedrontador, eu tinha medo até de que tu pudesses ouvir minha respiração, mas tu estavas ali na minha frente.

Quando olhou-me, sentei, era muito para mim. Tirei a toalha do cabelo, segurei-a com tanta força que sentia minha mão queimar, doía menos que a culpa. Agora começava a chover, o estrago podia ser maior. Sim, eu escutei cada palavra que você não me disse, seu olhar me interrogou e eu chorei. Chorei como uma criança quando perde os pais no supermercado.

Você nem me xingou, mas eu estava me sentindo completamente devastada, você nem havia pronunciado uma palavra, eu já não tinha mais orgulho, eu já nem sabia mais quem era eu. Foi aí que você começou a questionar quem sou eu, quem era a pessoa que estava todo aquele tempo ao lado dele. Nem eu sabia responder. Tudo era muito natural, não havia pecado, mesmo eu sabendo do erro. Se eu perdesse um, morreria. Se perdesse o outro, não saberia viver. Eram as condições que eu tinha criado para eu mesma acreditar e aceitar aquela situação como boa para todas as partes.

Tentei conter as lágrimas, naquele momento nem isso eu merecia ter, pra quê se ali o erro era meu, o erro era eu. Você que sempre esteve ao meu lado, naquela tarde de domingo, teve que escutar de mim a outra vida que, para mim, nos unia mais. Tive que dizer dos encontros, momentos juntos, momentos que neguei a ti de forma que você nem soubesse o motivo. Você se culpava e eu tinha você aos meus pés, porque eu achava que o seu papel no teatro da minha vida era esse, era implorar pelo meu amor, pelo meu afeto.

Não sabia eu que esse papel era totalmente meu. Você levantou e começou a fumar, a fumaça você jogou na minha cara, me humilhar era pouco para você. Mas eu queria provar que eu sempre fui mais tua. Você me deu uma tapa, eu gritei. O cabelo molhado confortava a dor de apanhar do homem que eu sempre julguei amar. Eu gritava o quanto eu te amo e você fumava. O seu silêncio me cortava em pedaços, a navalha do ódio e você me arranhavam. Tomei as fotografias das suas mãos e atirei pela janela daquele apartamento, as fotos começaram a perder o sentido, eu já não tinha mais nada.

Você ficou ali ao lado da janela, em pé, com um cigarro e a xícara na mão olhando as fotos serem levadas pela chuva, tentei te tocar, te beijar pela última vez. Você me mandou embora, eu pedi pra que você me amasse pela última vez. Silêncio.

Não houve paixão alguma após o pedido. Implorei para que me batesse, me humilhasse mais, para que ódio pudesse ir embora, você nem me olhou. Aceitei o seu desejo. Com chocolates, cigarros e sangue termino esta carta para dizer que você foi o homem da minha vida. Agora que leu e viu meu corpo pálido, gélido, com tua foto, deve ter entendido que se te traí foi por amor, tudo que fiz foi por amor. Agora, guarde esta carta, porque te amar foi a gota d’água.

Com desamor,
Bárbara.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Se já amou, sabe.



Passo duas horas para me arrumar, você vem com esse sorriso e me desmancha em um segundo, me explica como? Eu fico fazendo projetos, montando esquemas, pensando em como te entregar minha alegria, só pra escutar o estalinho do teu beijo quando você vem agradecer. E aí eu fico sem som, fico sem sentidos, é... eu não posso acreditar: você me beijou. E aí, num movimento tão coreografado pelo amor a gente fica abraçadinho, por favor que nada pare isso, que o relógio quebre. Eu posso falar até ficar sem voz, mas como você vai sentir se nem eu sei como dizer? Tá entendendo que eu te amo, eu sei. Fecha o olhinho, amor. Agora eu to conseguindo me acalmar, ta ficando sem sentido pra você o que eu to dizendo, eu sei. Mas é tão meu pra você, isso é amor. Calma, meu amor! Isso são lágrimas de felicidade, meu corpo quer te dizer de várias maneiras o quanto te ama. Tô tremendo, que nunca pare, que eu sempre sinta isso, com você. Eu gosto do jeito que você faz, me inspira na escrita, pego no papel, mas não consigo escrever. Pensei em você, esqueci o mundo. É o amor essa loucura toda? É meu, amor, Amor! Se não faz sentido, aqui está toda minha declaração, amor. Obrigada por estar comigo, dança comigo, agora, daqui a pouco, o infinito, amor.