Estranhos que visitaram

domingo, 8 de março de 2015

Olhos nos olhos





Ele me disse que ia doer e, de repente, já estava fora de casa. Encontrei um poço dentro do meu peito naquela semana. O chão do banheiro era uma extensão da minha cama, eu não sabia se era o chuveiro ou minhas lágrimas que me limpavam. Fiquei sozinha e imóvel durante eternidades, segui minha vida e escondi minhas dores na gaveta da mesinha da sala.


Conheci homens, viajei pelos seus corpos e histórias. Tomei banho de champanhe, fui defumada pelos cigarros em quartos para dois. Mas eu estava ali me erguendo à minha maneira. Conheci lugares e sensações, mas nunca consegui me desprender das lembranças que tive com ele. Eu era uma louca desvairada pelo costume doentio da presença daquele homem.


Meses a fio sem notícias dele, também não perguntava. Curtia minha dor ao som do LP nas noites de quarta. Chorava pela casa, gritava e entoava questionários que já tinham sido respondidos quando ele me deixou, o meu bem. Um ano se passou depois do patético episódio. E tantas águas rolaram, tantos homens me amaram bem mais e melhor que você.


Esbarrei com ele num desses acasos da vida. Sua alegria era forçada, como alguém que teve amnésia e fez amizade na fila do banco. Perguntou pelos vizinhos, pelo trabalho e quis uma visita. Respondi que quando talvez precisar de mim,” cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim.”


Ele me conhecia, sabia que eu estava diferente. Eu cheirava a pecado e segredo, ele só não conseguia mais decifrar o que podia estar acontecendo e não suportava me ver tão feliz. Corri para casa, tirei meus sapatos e me joguei no sofá. Daquele dia em diante, minha vida havia parado para esperá-lo novamente.