Ele
me disse que ia doer e, de repente, já estava fora de casa. Encontrei um poço
dentro do meu peito naquela semana. O chão do banheiro era uma extensão da
minha cama, eu não sabia se era o chuveiro ou minhas lágrimas que me limpavam.
Fiquei sozinha e imóvel durante eternidades, segui minha vida e escondi minhas
dores na gaveta da mesinha da sala.
Conheci
homens, viajei pelos seus corpos e histórias. Tomei banho de champanhe, fui
defumada pelos cigarros em quartos para dois. Mas eu estava ali me erguendo à
minha maneira. Conheci lugares e sensações, mas nunca consegui me desprender
das lembranças que tive com ele. Eu era uma louca desvairada pelo costume
doentio da presença daquele homem.
Meses
a fio sem notícias dele, também não perguntava. Curtia minha dor ao som do LP
nas noites de quarta. Chorava pela casa, gritava e entoava questionários que já
tinham sido respondidos quando ele me deixou, o meu bem. Um ano se passou
depois do patético episódio. E tantas águas rolaram, tantos homens me amaram
bem mais e melhor que você.
Esbarrei
com ele num desses acasos da vida. Sua alegria era forçada, como alguém que
teve amnésia e fez amizade na fila do banco. Perguntou pelos vizinhos, pelo
trabalho e quis uma visita. Respondi que quando talvez precisar de mim,” cê sabe
que a casa é sempre sua, venha sim.”
Ele
me conhecia, sabia que eu estava diferente. Eu cheirava a pecado e segredo, ele
só não conseguia mais decifrar o que podia estar acontecendo e não suportava me
ver tão feliz. Corri para casa, tirei meus sapatos e me joguei no sofá. Daquele
dia em diante, minha vida havia parado para esperá-lo novamente.