Estranhos que visitaram

quinta-feira, 19 de julho de 2012

And I love him.




Comecei com algumas cartas, deixei-as em uma pasta, nunca as enviei. Eram bonitinhas demais para jogar no lixo. Faz um tempo e eu não te esqueci, que idiota, você nem lembra mais de mim e, se lembra, só lembra do básico. Talvez ri de mim, talvez não lembra. Revirei a bagunça do meu quarto, depois, a da vida. Achei seu número atrás de uma agenda antiga, com a letra bonita, seu nome era pra ser escrito com cuidado, com amor, com tinta rosa. Liguei e você esperava outra voz, outro chamamento, outra. Não tentei ensaiar o sorriso, mostrei que não perdi aquilo de ser ''real'', de mostrar o que sinto. Mas que imbecilidade a minha, escondi tanto meu sentimento.

Perguntei sobre a vida, perguntei como estava e sobre a vida. Tão bom ele me respondeu pacientemente as perguntas gêmeas. Eu controlando a respiração e tentando falar baixinho, não era eu. A ânsia de que ele não quisesse desligar, ficaria horas escutando a voz dele, ficaria mesmo. Mas a todo momento eu sabia que eu não ia conseguir nada, aquilo não passaria de uma ligação, era como um presidiário que tem direito a uma única chamada por semana. A minha era uma fala na eternidade.

- Eu te amo, você me ama, ainda? – comecei a me beliscar, me odiava.

- Não, eu não te amo.

Ele tinha mesmo que dizer aquilo? Que rude! Agora o odeio tanto que o mataria com minhas unhas. Mas que besta, como fui perguntar o óbvio? Não bastava a notória insegurança e agonia de sempre?

- Eu a amo. Eu sei que pode te machucar e eu realmente me preocupo com seus sentimentos, você merece alguém que sinta o que eu sinto por ela.

Ouvir aquilo foi como um perder um balão na infância, como quebrar um copo antigo da família, foi tirar ele de mim, só que de verdade.

- Eu nunca fiz isso por ninguém, a minha coragem acabou de correr e eu acho que preciso desligar.

- Bom, você que sabe.

- O que vai fazer no domingo?

- Marquei de sair com ela, vamos ao cinema e ...

Eu já não o escutava e sei que foi de propósito, era tudo um jogo pra me machucar e eu gostava (?) disso.

- Olha, tenho que ir, tenho algumas coisas pra fazer.

- Tchau!

Ele riu e aquilo me deu mais raiva, filho de uma puta não sabe ele que tenho muitos aos meus pés, eu que não quero, não sou feito ele. Eu quero um amor de verdade, um amor que marque o domingo pra ficar comigo, que dispense a outra cheia de amor pra dar. Droga, e agora?

- Alô? Ei, porque não eu?

- Acho que somos melhores como amigos.

- Amigos? Mas, nem isso, somos.

- Claro que somos!

- Quantas vezes a gente sai, quantas vezes você liga pra mim?

- Tá vendo? Você quer ser minha namorada, mas eu já tenho uma.

- Você é um idiota, sabia?

- Beleza.

- Eu tô cansada de você, não te ligo nunca mais.

- Tá legal, tchau.

Eu o amo tanto, ele é louco por mim, senti pelo ‘‘tchau’’, deve ter sido difícil pra ele desligar, um amor proibido desses.