Não precisei de nenhuma carruagem para
voltar para casa. Enfrentei, então, com muito medo o frio de uma noite
francesa, em meios a cestas de frutas podres, pedintes e bêbados, andei, queria
minha casa. Arrastava meu longo vestido que insistia em correr de minhas
mãos. Em alguns becos ouvia as notas de
um piano de uma viúva famosa do bairro. O piano gritava sua dor, acalmava
aquela solidão irmã gêmea da minha. Os paralelepípedos molhados, carruagens
próximas e eu ainda não havia me situado. Decidi parar em um bar, fui
confundida com moças da noite. Derramei mais vinho sobre meu vestido que se
encontrava podre neste momento.
Fui nomeada princesa por um lindo
príncipe. Fui sua bailarina na caixinha de música, dancei em seu lago, joguei
minhas tranças, dormi o sono profundo, dancei a valsa mais esperada com o
vestido mais desejado da cidade. Ele não me beijou, não me acordou para uma
vida dobrada. O chão começou a ter forma de raios e eu precisei imediatamente
sair daquele baile, mais uma magia havia se desfeito. Ele precisava selar
aquilo antes da minha vergonha chegar, mas ele não o fez. Senti náuseas, o
salão começou a rodar e eu só enxergava cachos, sussurros, vestidos, o anel de
vidro se quebrar. Eu havia esperado tanto pelo dia de hoje, ele arruinou. O príncipe
não me procurou com seu cavalo, nem tinha uma espada para se proteger. O
príncipe ficou bêbado e esqueceu-se da minha existência naquela festa, o
príncipe esquece-se de me apresentar à sociedade. O príncipe nunca me fez
princesa. Ficaria muito mais bonito usar palavras e elementos assim para
descrever o que Pedro fez comigo no último sábado. Troque carruagens por táxis,
o baile por um club, o príncipe por mais uma tentativa arruinada do mais novo
primeiro encontro. Voltei para casa bêbada, tropeçando nas ruas esburacadas da
grande Recife, dando “boa noite” ao porteiro, vomitando no elevador, dormindo
no sofá e sonhando com o príncipe que vive atrasado, que nunca chega, que é
sonho do bom.
Nenhum comentário:
Postar um comentário