Estranhos que visitaram

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Pas sans toi



Acordei no meio da madrugada num pulo que tirou meu coração do lugar, ele foi para a garganta, com certeza. Tirei toda a roupa das gavetas, rasguei meus livros, quebrei porta-retratos, levantei o colchão, limpei o suor da minha testa. Ofeguei, ofeguei e voltei à procura. Fui seguindo o cheiro, havia bem pouco ali, mas eu podia sentir o cheiro do que eu procurava.

Quebrei a TV, liguei todas as luzes e abri todas as torneiras. Acendi o fogão, fiz tudo funcionar, coloquei tudo fora do lugar, tentando te chamar. Quebrei tudo o que me deu vontade de quebrar. Meu grito transformou-se em água que rolava descontroladamente pelo meu rosto. Queimei todos os livros. Daquele momento em diante não queria nenhuma palavra ao meu redor. Continuei minha busca. Fui ao banheiro, abri o armário, quebrei o espelho, me cortei e gritei de dor. Me senti viva. Tive desgosto dessa sensação.

O silêncio na madrugada me fazia mais solitária que nunca. E o choro agora era de dor. Muita dor. Eu estava procurando você. Desde que a vida expulsou você desse mundo, eu fico assim sem saber quem sou. Me torturando até os ossos, blasfemando friamente. Gritando seu nome. Chamando a morte de puta e querendo que ela me leve também, apesar de tudo, eu não consigo me deixar ir. Por isso eu te procuro em todos os lugares do nosso lar, tenho medo de esquecer teu rosto.

Separação brusca, estúpida. Castigo de Deus. Reprovação dos homens e alívio dos meus pais. Perdi os cabelos mais lindos, a pele mais macia que já havia se juntado a minha, perdi o amor que nunca mais terei e que antes nem havia conhecido. Se a condição pra te ter é sonhar infinitamente, que a vida me deixe agora dormir para todo o sempre. Se você me ama, vem me buscar, ainda essa noite.

2 comentários:

Rayssa Marinho. disse...

muito boom!

Felipe Lira disse...

Sejamos francos: você está cada vez melhor!