Estranhos que visitaram

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Para: Rodrigo


Rodrigo,

Quando quando você achou aquelas fotos, minha garganta gelou, eu fiquei fraca, perdi o chão. Eu sabia que daquele momento em diante eu estava acabada. Enquanto olhavas cada fotografia, por vários segundos, era como uma facada, porque eu conhecia todos os olhares teus. Aquele era o do desapontamento com uma pitada de ódio. Eu andava de um lado para o outro no apartamento, bebia uma xícara de café e não falava nada. O silêncio na sala era amedrontador, eu tinha medo até de que tu pudesses ouvir minha respiração, mas tu estavas ali na minha frente.

Quando olhou-me, sentei, era muito para mim. Tirei a toalha do cabelo, segurei-a com tanta força que sentia minha mão queimar, doía menos que a culpa. Agora começava a chover, o estrago podia ser maior. Sim, eu escutei cada palavra que você não me disse, seu olhar me interrogou e eu chorei. Chorei como uma criança quando perde os pais no supermercado.

Você nem me xingou, mas eu estava me sentindo completamente devastada, você nem havia pronunciado uma palavra, eu já não tinha mais orgulho, eu já nem sabia mais quem era eu. Foi aí que você começou a questionar quem sou eu, quem era a pessoa que estava todo aquele tempo ao lado dele. Nem eu sabia responder. Tudo era muito natural, não havia pecado, mesmo eu sabendo do erro. Se eu perdesse um, morreria. Se perdesse o outro, não saberia viver. Eram as condições que eu tinha criado para eu mesma acreditar e aceitar aquela situação como boa para todas as partes.

Tentei conter as lágrimas, naquele momento nem isso eu merecia ter, pra quê se ali o erro era meu, o erro era eu. Você que sempre esteve ao meu lado, naquela tarde de domingo, teve que escutar de mim a outra vida que, para mim, nos unia mais. Tive que dizer dos encontros, momentos juntos, momentos que neguei a ti de forma que você nem soubesse o motivo. Você se culpava e eu tinha você aos meus pés, porque eu achava que o seu papel no teatro da minha vida era esse, era implorar pelo meu amor, pelo meu afeto.

Não sabia eu que esse papel era totalmente meu. Você levantou e começou a fumar, a fumaça você jogou na minha cara, me humilhar era pouco para você. Mas eu queria provar que eu sempre fui mais tua. Você me deu uma tapa, eu gritei. O cabelo molhado confortava a dor de apanhar do homem que eu sempre julguei amar. Eu gritava o quanto eu te amo e você fumava. O seu silêncio me cortava em pedaços, a navalha do ódio e você me arranhavam. Tomei as fotografias das suas mãos e atirei pela janela daquele apartamento, as fotos começaram a perder o sentido, eu já não tinha mais nada.

Você ficou ali ao lado da janela, em pé, com um cigarro e a xícara na mão olhando as fotos serem levadas pela chuva, tentei te tocar, te beijar pela última vez. Você me mandou embora, eu pedi pra que você me amasse pela última vez. Silêncio.

Não houve paixão alguma após o pedido. Implorei para que me batesse, me humilhasse mais, para que ódio pudesse ir embora, você nem me olhou. Aceitei o seu desejo. Com chocolates, cigarros e sangue termino esta carta para dizer que você foi o homem da minha vida. Agora que leu e viu meu corpo pálido, gélido, com tua foto, deve ter entendido que se te traí foi por amor, tudo que fiz foi por amor. Agora, guarde esta carta, porque te amar foi a gota d’água.

Com desamor,
Bárbara.

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